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Casa Zero

by Dibuk

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1.
escuto o escuro escuto o oculto os corvos devoram o sol as curvas das mãos ao alto quero ser escudo do medo do escuro do medo do oculto outros sóis virão
2.
extrair do muro a polpa fruta exótica destroçada porta retornada lenha
3.
Curimã 03:36
4.
Flecha 03:58
habitar uma rocha caída no fundo do olho de alguém que não sabe mais atirar a flecha
5.
Raio 01:39
rápido o raio rompe o rosto rápido o raio rói o rastro rápido ruge ri da ruí n a
6.
(Ricardo Domeneck) algo, um resto, uma sobra, luzia da terra, luzia enterrada essa migalha, se do passado ou futuro não se sabe, mas segue-se dando nomes luminosos a façanhas e ossadas dessa terra, a brasa na lama, a luz no fundo da terra, cava-se até não sobrar, arranca-se até não restar, e eis que aqui jaz luzia, osso ou caroço, resíduo ou semente, não se sabe, será cálcio ou caule num sulco ou túmulo, mas ainda luzia, luzia, a primeira, a primeira que restou, a última que sobrou, seus restos os primeiros, os últimos do solo que se faz território a que um dia dariam outro nome luzidio, brasil, e luzia que certo não sonharia essa noção de trapos e bagaço e lama e detritos e pó que se chamou colônia, império, república, estado -nação, não, luzia não sonhou brasil nenhum, quiçá brasil seja tão só o pesadelo repetindo-se no vão do tempo dentro do crânio de luzia
7.
outro outro tronco oco outro ou outroncocoutrotroncocotroncotr TRTRNCCTRTRNCCTRTRNC TRRRRRRRRRRRRRRRRRR
8.
Terra Plana 02:06
da janela do navegador te vejo sorrir da janela do navegador a guerra a tela da máquina brilha da janela do navegador estendo a mão da janela do navegador a Terra fora de mim e eu tão só sem corpo no vazio
9.
vi em sua íris oásis
10.
morreu na praia minha fala morreu na praia antes de partir ao céu da boca morreu na praia minha fala morreu na praia antes de chegar ao horizonte da boca engendrada na garganta afogada na garganta
11.
Rio 03:13
corre, ainda o rio não secou corre ainda o rio

about

à Liz,
ao escuro do futuro

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com esmero faço as chaves e as portas dessa casa engraçada, número zero, número nada, repleta de vazio. é sempre bom lembrar, o ar do copo ocupa, o ar do corpo, o corpo oco, o tronco onde ecoam vozes dos outros.

canto porque tenho medo. o medo uiva pelos vãos e quero abrir as janelas.

canto nossa casa, em chamas, chamo a casa e em cinzas recrio crânios.

o que tem nessa cabeça, saiba: cá onde romperam galhos e frutos de minha árvore genealógica vejo o zero materializado, escrito nas testas, talhado no chão no teto nos móveis eletrodomésticos na última tecnologia.

mas jorro e é pelo vazio da garganta que ressôo, válvula de escape, cavo poços e claraboias nos poros da pele árida e descubro rios subterrâneos fugindo da morte, rios moles que por fim abrem passagem, abrem olhos narinas orelhas boca vulva ânus e fazem minha língua dançar, ela pula pra fora e sou carranca, carrancuda, e rio, rio de mim.

isso que veio do ronco da fome, espero que chegue em você pétala, gotinha d'água.

sempre quis fazer canções.

credits

released June 8, 2020

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todas as músicas compostas e tocadas por Lea Taragona.
o poema "luzia do brasil" é de autoria de Ricardo Domeneck.

Victor Negri participa em:
Terra Plana: percussão, baixo, teclado
Raio: percussão
Rio: voz

produção musical, mix e master: Lea Taragona e Victor Negri
capa: desenho de Waldomiro Mugrelise sobre foto de Lea Taragona
gravado em casa, entre 2018 e 2020.

> acompanha livro com letras das canções, desenhos de Waldomiro Mugrelise e orelha de Inés Terra, lançado pela editora Urutau : editoraurutau.com.br/titulo/casa-zero <

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Dibuk São Paulo, Brazil

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